Em busca de
fortalecimento
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Mesmo
sendo a cultura mais popular do país, mandioca enfrenta dificuldades com a
falta de incentivo à pesquisa e problemas repercutem no mercado
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Quando os portugueses chegaram aqui, a mandioca ou aipim,
ou ainda macaxeira, dependendo da região, já era cultivada em quase todo o
território brasileiro. Cinco séculos depois, ela ainda continua sendo a cultura
mais popular em nossas lavouras. Contudo, apesar de sua importância no hábito
alimentar do brasileiro, a pesquisa e a distribuição de variedades melhoradas
ainda é um desafio.
As dificuldades vão desde a condução de ensaios em rede,
que dificultam a seleção de materiais com potencial para serem mais largamente
empregados nas diferentes condições de clima e solo do país, até a mesmo à
multiplicação das manivas (hastes para o plantio) das novas variedades
nutricionalmente mais interessantes.
De acordo com o pesquisador Vanderlei da Silva Santos,
melhorista da área de mandioca da Embrapa Mandioca e Fruticultura, no caso das
espécies que produzem sementes, como soja, milho, arroz etc. há empresas
nacionais e multinacionais que trabalham exatamente para atender a necessidade
de sementes do mercado. No caso da mandioca, não existe mercado de manivas. A
inexistência dessas empresas coloca toda a responsabilidade pela multiplicação
dos materiais na própria instituição de pesquisa, o que torna mais lenta a
difusão das novas alternativas e, na razão direta, avanços gerais para a
cultura.
“Temos dificuldades em atender o mercado. Distribuímos
manivas para todas as pessoas que nos solicitam por carta ou e-mail, mas
fornecemos quantidades pequenas, para apenas dez plantas. Essa é a principal
razão para que as cultivares melhoradas demorem a ser adotadas pelo mercado”,
diz o pesquisador da Embrapa.
Dona de casa
Outro ponto de estrangulamento são os fundamentais trabalhos de seleção de
materiais adaptados às diversas características edafoclimáticas do Brasil. Como
não há redes de ensaio, o que se busca é apenas o desenvolvimento de variedades
que atendam a um padrão mais genérico das diferentes peculiaridades de clima e
solo das regiões, ao invés de se buscar a seleção e melhoramento de cultivares
específicas para cada situação geográfica.
Segundo o pesquisador, até pouco tempo, a mandioca era
uma cultura marginalizada, relegada a segundo plano, com pouco investimento e
pouca gente trabalhando na área. O quadro gera reflexos sentidos até pela dona
de casa.
“Por conta do lançamento de novas cultivares e veiculação
na mídia, recebemos pedidos de manivas para diversas localidades do país,
muitas onde os materiais não foram testados. O resultado é que surgem
reclamações como problemas de não cozimento como deveria e, por se tratar de
mandioca de mesa, esse tempo é fundamental. Mas se ficarmos esperando as
condições ideais para o lançamento dos materiais, não vamos lançar nunca”,
revela Santos.
Segurança alimentar
Em 2009, a Embrapa Mandioca e Fruticultura, lançou no mercado a BRS Jari, uma
cultivar de mandioca mais rica em vitamina A em função do maior teor
betacaroteno, com cerca de 9 ppm. Nada que se compare, por exemplo, à abóbora
ou à batata doce, cujos teores podem chegar a 200 ppm. Mas em se falando da
cultura mais popular do país, fala-se também de um consumo muitas vezes maior
que o da batata doce ou da abóbora.
A importância é estratégica do ponto de vista da
segurança alimentar. A falta de vitamina A abre porta para diversas doenças na
população, uma vez que auxilia, entre outras coisas, no aumento da imunidade do
organismo humano.
“A mandioca mansa é consumida em quantidades muito
maiores, daí a importância para aumentar o fornecimento de vitamina A à
população, sobretudo, para a população de mais baixa renda que é a que mais
sofre com os problemas de saúde decorrentes desse déficit nutricional”, destaca
o pesquisador.
Atualmente uma das frentes de trabalho do BioFORT, o
projeto responsável pela biofortificação de alimentos no Brasil, coordenado
pela Embrapa, é o desenvolvimento de materiais de mandioca com 15 ppm de
betacaroteno.
Além da elevação dos teores de vitamina A, o programa
quer aumentar também os níveis de ferro e zinco na dieta da população mais
carente. Por sua penetração junto à população. A elevação de teores de
nutrientes ganha importância ainda maior quando percebidos dentro do contexto
da alimentação escolar.
Mercado
A outra frente de trabalho das pesquisas diz respeito a cultivares de mandioca
de mesa mais interessantes para o mercado. Santos explica que a sociedade hoje
procura alimentos mais saudáveis e nutritivos, mas não só isso, mais práticos
também.
“Antigamente a mandioca era comprada apenas nas feiras,
naquela forma de raiz inteira. O mercado começou a buscar apresentações mais
práticas, de preferência que a mandioca já venha limpa, descascada, embalada a
vácuo e até pré-cozida. Mais recentemente, surgiu a necessidade de que ela já
venha no formato chips ou sob a forma de bolinhos. Mas para que isso
se desenvolva, mais investimentos em pesquisa são necessários”.
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