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Solo: fertilidade rima com produtividade
Erros ligados à manutenção da fertilidade do solo ocorrem logo no início do processo produtivo e seus efeitos refletem-se em todas as fases da atividade


Marcelo Pimentel
13/09/2012
Ciente do fato de que o solo é a base para qualquer atividade agrícola e, mesmo assim, alguns princípios elementares relativos à manutenção de sua fertilidade não são devidamente considerados, Ronaldo José Pucci, presidente da Coopaceres, Cooperativa Agroindustrial Ceres, de Ponta Porã, MS, há alguns meses, procurou o setor de Transferência de Tecnologias da Embrapa Agropecuária Oeste, em Dourados, MS, para capacitar técnicos agrícolas e agrônomos que atendem aos agricultores familiares do Assentamento Itamarati na área de fertilidade do solo. A ajuda veio sob a forma de um curso de capacitação dado no final de agosto pelo pesquisador Carlos Hissao Kurihara, daquela unidade da Embrapa.
A preocupação de Pucci chama a atenção para um fato que faz parte de uma realidade presente em pequenas e até em grandes propriedades. A falta de preocupação com a ausência de matéria orgânica, as amostragens de solo mal feitas e as falhas na interpretação dos boletins de análise de solo compõem, de modo comum, um grupo de fatores que limita a eficiência em lavouras e pastagens. Erros ligados à manutenção da fertilidade do solo ocorrem logo no início de todo o processo produtivo e, invariavelmente, seus efeitos refletem-se em todas as fases da atividade, comprometendo o resultado final.
De acordo com Kurihara, o agricultor familiar, em geral, tem apenas noções básicas sobre a importância da fertilidade do solo. Assim, sem um acompanhamento da assistência técnica, o agricultor pode estar adubando sua lavoura ou pastagem com tipo e quantidade inadequada de fertilizante, o que certamente afetará a produtividade das culturas. 
“Sem o acompanhamento, o agricultor aduba uma área que possui um problema de acidez do solo, o que pode comprometer inclusive a eficiência da adubação, principalmente da adubação fosfatada. Se a gente considerar que o adubo é responsável por cerca de 20 a 25% do custo de produção de uma lavoura, o uso inadequado de adubo pode se tornar uma grande fonte de desperdício de recurso financeiro”, destaca.

Falhas 
No dia a dia das propriedades, os erros mais comuns segundo Kurihara são: 
- Amostragem de solo mal feita, o que pode prejudicar toda a avaliação posterior da fertilidade do solo, e a consequente recomendação de adubação;
- Erro na interpretação do boletim de análise de solo, devido à falta de conhecimento sobre as diferenças existentes nos resultados quando se encaminha as amostras de solo para laboratórios de outros estados. Existem métodos de análise que resultam em valores diferentes daqueles que seriam obtidos se a amostra de solo fosse analisada em um laboratório da região onde está localizada a propriedade rural, e que por esta razão, exigem cuidado na interpretação dos resultados. Um exemplo de equívoco muito comum refere-se à análise de fósforo no solo. Em vários estados, utiliza-se o extrator Mehlich-1. Já em São Paulo, o teor de fósforo no solo é determinado com o extrator resina. Se uma mesma amostra de solo for encaminhada para um laboratório que adota o método Mehlich-1 e para outro que adota a resina, certamente os teores de fósforo serão bastante diferentes. E não existe um fator de correção para transformar o teor de fósforo analisado pelo método Mehlich em teor analisado pela Resina. Por isso, é importante saber interpretar o boletim de análise do solo.
- Por fim, uma falha bastante comum no manejo da fertilidade do solo é a ausência de preocupação, por parte do agricultor, em relação ao teor de matéria orgânica do solo. O agricultor deve adotar um sistema de manejo que permita aumentar o teor de matéria orgânica, pois ela permite a melhoria nas propriedades químicas, físicas e biológicas do solo. Quando se fala em sistema de manejo adequado, está se falando em Sistema Plantio Direto.

Perdas
Para o pesquisador, se o solo tiver baixa fertilidade e a adubação for inadequada, tanto a cultura anual como a pastagem terão o crescimento prejudicado e, certamente, a produtividade será menor do que se teria em condições de solo corrigido. Por outro lado, se o solo tiver boa fertilidade, e o seu manejo for adequado, o agricultor pode, eventualmente, diminuir a quantidade de adubo a ser aplicada, sem prejuízos na produtividade da cultura.

“Normalmente, esta prática é adotada em anos onde o custo do adubo é muito alto e/ou se a expectativa do preço do produto final for desfavorável. Nestas condições, o agricultor tende a reduzir o investimento na lavoura, para diminuir o custo de produção. Contudo, esta decisão deve ser bastante criteriosa, e não uma prática contínua, para que não haja o empobrecimento do solo”.
Critérios
A avaliação da fertilidade do solo passa em primeiro lugar, de acordo com o pesquisador, por uma amostragem de solo bem feita. Isto quer dizer que o agricultor deve dividir sua propriedade, independente do seu tamanho, em talhões homogêneos quanto à topografia, histórico da área, tipo de vegetação, entre outros fatores. Em cada talhão, deve-se retirar pelo menos quinze amostras simples em um balde limpo, misturar e formar uma amostra composta. Dessa amostra composta, o agricultor deve retirar uma porção de cerca de 500 gramas, colocar num saco plástico limpo e encaminhar ao laboratório, para fazer a análise química.

“É importante lembrar que a coleta das amostras simples deve respeitar a profundidade de amostragem mais adequada, que é de 0 a 20 cm para o plantio convencional e de 0 a 10 e de 10 a 20 cm para o plantio direto”, observa.
Custos
A respeito dos custos relativos à manutenção da boa fertilidade do solo, ele explica que, tirando o valor da assistência técnica ou da consultoria agronômica, o agricultor irá investir algo em torno de R$ 70,00 em cada análise de solo para fazer a caracterização química do talhão. Assim, o custo do monitoramento da fertilidade do solo vai depender do número de talhões em que a propriedade rural for dividida. No entanto, o pesquisador lembra que não é necessário efetuar a análise de solo todo ano.

Já para os agricultores que possuem um nível tecnológico maior, e que podem investir um pouco mais no monitoramento da fertilidade do solo, pode-se adotar, ainda, a diagnose foliar, que consiste na análise química de amostras de folhas de uma das culturas cultivadas no talhão, para a avaliação do estado nutricional das plantas.
“Esta diagnose não substitui a análise do solo, e sim complementa as informações fornecidas por ela. Caso o agricultor resolva refinar o monitoramento da fertilidade do solo com esta ferramenta, haverá um custo adicional de cerca de R$ 60,00 por talhão. Nesse aspecto, chamamos a atenção do agricultor para a importância de se encaminhar as amostras de solo ou de folha para laboratórios que participam de um programa de controle de qualidade, para se garantir de que os resultados da análise química tenham um grau de confiança satisfatório. Todos os laboratórios que participam deste controle de qualidade, e tenham sido aprovados nas avaliações realizadas periodicamente, possuem um selo que certifica a empresa. Então, basta ao agricultor exigir do laboratório de análise de solo e planta, a apresentação do selo do programa de controle de qualidade”.
Investir na fertilidade do solo, no entanto, nem sempre significa necessariamente o desembolso de muito dinheiro. Em alguns casos soluções simples e baratas podem ajudar. Kurihara explica que em condições de solos de baixa fertilidade, não há outra saída senão investir pesado na aquisição de corretivos de acidez do solo e fertilizantes.
“O custo desta prática é elevado, mas isto deve ser encarado como um investimento, pois tornará a terra produtiva dali para frente, permitindo ao agricultor obter boas produtividades, se os outros fatores de produção assim o permitirem”.
Por outro lado, segundo ele, se o talhão já apresenta pelo menos teores médios de nutrientes, a manutenção desta fertilidade pode ser conseguida com a adequada interpretação da análise de solo, com a definição de fontes de adubos mais eficientes e de menor custo e com a aplicação do adubo de forma adequada.
Como exemplos de técnicas de baixo custo, o agricultor pode substituir a adubação corretiva total pela adubação corretiva gradual. No primeiro caso, seria necessária a aplicação de uma dose bastante elevada de fósforo, que seria incorporada na camada de 0 a 20 cm, para a correção de toda a camada arável. No segundo caso, da adubação corretiva gradual, o agricultor aplica uma quantidade de fósforo um pouco maior do que aquela indicada para a adubação de manutenção, sempre na linha de semeadura. A correção da fertilidade do solo demora um tempo maior, porém, haverá muito maior eficiência no aproveitamento do adubo aplicado.
“Também pode ser considerado como técnica de baixo custo, as práticas que permitam aumentar o teor de matéria orgânica no solo. A matéria orgânica tem um papel muito importante na estruturação física do solo, no aumento da atividade biológica e no aumento da eficiência de aproveitamento de nutrientes, principalmente o fósforo. E trabalhos conduzidos na Embrapa Agropecuária Oeste têm demonstrado que, para as condições de solo e clima da região Central do Brasil, a melhor maneira de se aumentar o teor de matéria orgânica é através da consorciação de milho com Brachiaria ruziziensis”, conclui.
Extensão
Um dos pontos mais importantes passados pelo pesquisador durante o curso em Ponta Porã é que o extensionista deve ter jogo de cintura e criatividade suficiente para indicar a adubação mais adequada possível para o agricultor, dentro do contexto da sua realidade econômica e da disponibilidade de produtos no mercado.
 
“Muitas vezes, ao interpretar a análise de solo, o técnico chega à conclusão de que necessita de um adubo formulado cuja composição não existe na sua região. Então, o técnico pode partir para o preparo da mistura de fontes simples na própria fazenda, e ter o seu adubo formulado. Contudo, muitas vezes, esta mistura na fazenda é dificultada por uma série de fatores. Então, cabe ao extensionista definir pela viabilidade de se parcelar a adubação, colocando parte dos nutrientes em cobertura. Ou então, aplicando-se um ou mais dos nutrientes a lanço, em superfície, antes da semeadura”.


FONTE: Dia de campo

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